Desatento ou lerdo? Eis a questão
Às vezes
o meu déficit de atenção me é favorável, de desviar a minha atenção às coisas
que aparentemente são obvias, das coisas monótonas. Já vi cada coisa que às
vezes nem acredito que sou capaz de enxergar. Estou sempre em um lugar
privilegiado e, dependendo do meu humor, eu jogo para escanteio essa coisa de
"ponto de vista" e vejo o que os meus olhos (esse sentido
autoritário) me fazem ver. Daqui, quase toda sexta-feira tento ver um por do
sol, que tenta se mostrar entre as fretas de uma janela, entre os blocos maciços
de concreto, que refletem a minha paixão pelo observar. Vejo os pássaros
defecando sobre os carros; o vento que leva os papeis de bala; sinto o cheio do
mar que fede; vejo pedras sobre madeira. Pássaros de cor acinzentada urgem como
leões famintos, peixes que pulam para fora d'água para comer e nós, onde
ficamos nessa história?
Acho que sou tão destruído que não
sou capaz de observar os meus semelhantes, por isso preciso de um esforço e de
um estímulo e, muito provavelmente, por isso que eu prefiro as vezes observar o
mar, as pedras, os pedaços de madeira, coisas que são inanimadas. Quando
observamos algo, alguém ou alguma coisa estamos dando sentido ao que vemos,
estamos ligando o canal do sentimento ao que é material. Quando vejo um
programa chamado "Trato feito" (no canal History cannel), é uma das
coisas que mais vejo: pessoas que estão ligadas a coisas e que não se desfazem
delas, pois tem um valor de troca inestimado ou por terem criado uma relação intrínseca
com ela e acabam por não se desprenderem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário